Uma mosca especializada em Dourados
Fevereiro de 2023, escrito por Matheus Gaspar, editado e publicado por José Roberto de Lazari - Lazari Fly Fishing
Nota do Lazari:
A Mix60 é um padrão de mosca criado por Matheus Gaspar, brasileiro, apaixonado pela pesca do Dourado no Fly e atador. Sua concepção, porém, nasceu de um mesmo princípio que permeia os atadores ao redor do mundo: A necessidade de obter melhores resultados na pesca. É um processo de criação (inventar algo novo) e de inovação (aperfeiçoar algo que já existe). Somente pessoas que reconhecem que existe um problema a ser resolvido e mergulham nele, para entendê-lo e supera-lo. Esse é o Matheus e sua Mix60 ou simplesmente Mix, como ele chama carinhosamente sua criação.
E não ficou por aí, ainda tem a Big Horse, mas essa é uma história para outro post. Fique ligado e aproveite!
O início - Um pouco de contexto
Por mais estranho que pareça, iniciei a pesca com mosca no Rio Paraná em busca de Tucunarés, peixe que após a sua introdução em lagos construídos para a geração de energia elétrica, passou a se proliferar também no leito original do rio.
Independente das discussões sobre os reflexos ambientais da introdução desse peixe no Rio Paraná, todos já ouviram falar da esportividade dos Tucunarés, por isso eles foram o meu foco naquela época.
Certa vez, um amigo e grande conhecedor do rio disse que a minha opinião mudaria quando eu capturasse o primeiro Dourado com mosca.
Na época, não levei muito a sério o que ele havia falado sobretudo porque, infelizmente, a pesca de Dourados tem se tornado cada vez escassa na região onde eu vivo. Mas ele tinha razão.
Sem grandes pretensões, eu estava testando moscas no Rio Paraná pensando numa pescaria agendada na Amazônia e outra no litoral. Entre essas moscas, estava uma Cockroach que, para minha surpresa, rendeu diversas ações e capturas de Dourados.
O desenvolvimento de um novo padrão de mosca - a Mix60
A partir desse dia, o Dourado tornou-se uma paixão e se seguiram diversas pescarias onde experimentei os mais variados tipos de moscas e técnicas de atado, que conjugadas, permitiram criar uma mosca que atendesse as minhas necessidades. Na verdade, essa mosca nada mais é do que a união de tudo aquilo que eu gosto e que tem funcionado bem durante as minhas pescarias, por isso, pensei em chamá-la de Mix.
Das diversas moscas que experimentei, as que trouxeram melhores resultados, sem sombra de dúvidas, foram aquelas que possuíam a cauda confeccionada com penas. No caso da Mix, prefiro penas grizzly atadas em “V”, pois criam um grande contraste e possuem um trabalho incrível na água, como a Cockoach que eu havia mencionado.
Praticamente não tenho usado mais qualquer espécie de brilho na cauda das moscas, sobretudo pela pouca durabilidade desses materiais e para evitar que fibras como Crystal Flash ou Flashabou venham a enrolar nas penas, prejudicando o trabalho da mosca. A ausência de brilho, aparentemente, não tem gerado qualquer interferência no número de capturas.
O corpo da Mix basicamente segue o formato da maioria dos streamer atados com bucktail, criando o perfil de um pequeno peixinho, como a Lefty Deceiver criada por Lefty Kreh, por exemplo. Porém, prefiro atar apenas duas mechas esparsas de bucktail, uma na parte inferior (mais curta) e outra na parte superior do anzol (mais longa).
O local e o peixe determinaram as características da Mix60
Na minha região, quantidade de Dourados não é expressiva, os peixes são ariscos e os pontos onde as ações ocorrem são escassos. Além disso, a água é muito rápida nestes locais, fazendo com que moscas que afundam rapidamente tragam melhores resultados.
Por essa razão, a quantidade de material usado nas moscas é um fator importante. Assim, para favorecer o afundamento, tenho optado por atar minhas moscas com pouco material, porém, ato as fibras de maneira esparsa para que a mosca mantenha um bom volume, fator que parece ser apreciado pelos Dourados. Quando quero mais volume do que o normal, ato as fibras de bucktail de forma invertida, como uma Hollow Fleye criada pelo Bob Popovics.
Tenho observado um maior número de ações em locais onde existem alguma espécie de estrutura, como galhadas e trocos caídos, próximos à água rápida. Contudo, esse tipo de situação dificulta os arremessos e aumentando a possibilidade de que a mosca enrosque, prejudicando o pesqueiro.
Diante dessa dificuldade, inicialmente, usei moscas com algum tipo de antienrosco, entretanto esse artifício diminuiu sensivelmente o número de capturas, fazendo com que eu passasse a atar as moscas com o anzol invertido, no estilo Bend Back, o que permitiu arremessos mais próximos das estruturas, quando necessário.
A utilização dos olhos de metal, além de favorecer o afundamento mais rápido e a permanência do anzol na posição invertida, permite o trabalho errático da mosca, como um Jig, a exemplo de uma dos streamers mais conhecidos e bem sucedidos que se tem notícia, a Clouser Deep Minnow, atada por Bob Clouser.
Um fator que tem favorecido a permanência do anzol na posição invertida e o trabalho errático da mosca é a utilização de Jig Hook 60º, como uma mosca Flashtail Whistler criada Dan Blanton. Segundo informações ainda não confirmadas o Jig Hook, além de manter o anzol na posição invertida, trabalha como um Circle Hook no momento da fisgada.
A cabeça da Mix segue um estilo Muddler, inspirado na Bulk Head Deceiver criada Bob Popovics e é claro, na Andino Deceiver criada por Carlos Ingrassia, que na minha opinião resume o estilo das moscas usadas para os Dourados.
Da mesma forma que o corpo da mosca, para favorecer o afundamento, tenho atado a cabeça da Mix com pouco material e de forma esparsa. Em vez do Deer Hair, eu uso as fibras da base do Bucktail, que apesar de grossas e ocas, tem menor flutuabilidade.
A cabeça atada neste estilo cria um perfil mais avantajado para a mosca, também cria vibrações na água fazendo com que ela seja percebida mais facilmente pelos peixes, sobretudo quando a água está turva, além de gerar turbulência favorecendo a movimentação das penas da cauda.
As cores que tem funcionado melhor são:
grizzly/chartreuse/orange,
grizzly/olive/cream/black e
grizzly/brown/black.
Você quer atar a Mix60?
Lista de Materiais da receita original
Thread – Monofilament Ultra Fine Danville’s
Anzol (Jig-Hook 60°) Mustad M32786BLN – podem ser usados outros anzóis como Gamakatsu SC-15, Gamakatsu B10S, Tiemco SP-600, Tiemco 800S, Daichi X452, etc...
Olhos de metal – Dumbbell Eyes com diâmetro entre 6 e 8mm. Eu gosto dos E-Real Eyes Plus 7/32 ou 1/4.
Penas – Rooster Saddle Grizzly, eu prefiro Eurohackle Cape – Grizzly Dyed da Whiting, são um pouco mais firmes.
Saltwater Bucktail – Creme, Oliva e Preto
Passo-a-passo do Atado by Matheus Gaspar
Importante: Essa mosca nada com o anzol invertido, portanto, a parte superior da mosca é a que fica dentro da curvatura do anzol
Amarre os olhos de metal no anzol usando a mesma técnica da Clouser Deep Minnow.
Fixe 3 pares de penas próximos à curva do anzol. A curvatura das penas deve ficar para fora, formando um “V”. Para aumentar a resistência, não retire as cerdas da base de cada pena.
Aplique um pouco de cola para melhorar a fixação dos olhos de metal e das penas
Amarre um feixe mais curto de bucktail na parte inferior para formar o ventre da mosca. Para formar a parte inferior da mosca use fibras de bucktail mais finas, que ficam localizadas na parte intermediária da cauda e possuem menor flutuabilidade.
Amarre e um feixe mais longo de bucktail na parte superior para formar as costas. Para a parte superior da mosca, utilize fibras localizadas próximas da base da cauda, que são mais grossas e possuem maior flutuabilidade. Isso ira favorecer a moscar a nadar na posição correta.
Deixe um espaço próximo aos olhos de metal para a cabeça da mosca.
Aplique cola, inclusive sobre a base das fibras, para ajudar a fixar o bucktail aumentando a durabilidade da mosca.
Amarre um feixe de bucktail na parte inferior da mosca, próximo aos olhos de metal, conforme a foto acima. O excesso de fibras será usado para formar a cabeça. Nesse caso, a escolha das fibras também deve seguir os procedimentos anteriores.
Repita o processo na parte superior da mosca, amarrando mais um feixe de bucktail.
Dobre as fibras excedentes para trás, adiante o fio de atado. Fixe as fibras com algumas voltas de fio usando a mesma técnica da Hollow Fleye (Bob Popovics).
Faça o nó de acabamento.
Corte as fibras dando formato a cabeça e aplique cola. As fibras mais próximas dos olhos de metal devem ser mais curtas, aumentando o comprimento conforme se aproximam do corpo da mosca.
A cabeça também não pode ser muito densa, as fibras devem ser atadas de forma esparsa para que a mosca afunde rápido
Gosto de deixar a cabeça um pouco mais volumosa na parte superior do anzol para garantir que a mosca nade corretamente, com o anzol invertido. Boas pescarias!
REFERÊNCIAS
The Fly Tier’s Benchside Reference to Techniques and Dressing Styles – Ted Leeson and Jim Schollmeyer – Frank Amato Publications.
Pop Fleyes – Bob Popovics’s Approach to Saltwater Fly Design - Ed Jaworowski and Bob Popovics – Stackpole Books.
Fly Fishing in Salt Water – Lefty Kreh – The Lyins Press.
Essential Saltwater Flies – Ed Jaworowski – Stackpole Books.
Clouser’s Flies – Bob Clouser – Stackpole Books.
Moscas Andino - Carlos Ingrassia - http://carlosingrassia.blogspot.com/
Sobre o autor
Matheus Gaspar
47 anos
Praticante de pesca com mosca no Rio Paraná e em outras regiões do Brasil.
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